Nascimento
do inimigo nº 1 dos criacionistas completa 200 anos
No
dia 12 de fevereiro de 1809, nasceu em Shrewsbury, condado
de Shropshire, na Inglaterra, o homem que iria revolucionar
o pensamento da ciência: Charles Robert Darwin.
A teoria da evolução das espécies,
por meio da seleção natural, influenciou
não só a atual biologia, mas também
a antropologia, psicologia, política e economia.
Suas
propostas, tratadas com muito receio em “A Origem
das Espécies” hoje ganharam forças
e grupos fieis, com a descoberta da transmissão
hereditária de características por meio
de genes. Mas ainda hoje existe uma forte oposição
as suas ideias. A dos criacionistas, que defendem a teoria
encontrada em Gêneses, na Bíblia.
“Darwin
criou uma nova fronteira na ciência, ao determinar
que as questões naturais precisam ser compreendidas
por meio de processos da natureza. Isso faz uma diferença
enorme, dissocia a ciência do pensamento religioso.
Antes as perguntas terminavam em respostas sobrenaturais",
afirma Maria Isabel Landim, professora do Museu de Zoologia
da USP (Universidade de São Paulo).
Adaptar para
sobreviver
O
biólogo identificou evidências de parentesco,
por meio de semelhanças anatômicas, existentes
entre diversas espécies. Exemplo dessa teoria é
que os nossos ossos de membros anteriores são semelhantes
os dos chimpanzés, baleias e morcegos. Apesar das
diferentes funções e suas formas serem distintas,
de acordo com Darwin, todos parecem vir de um ancestral
comum.
A existência da evolução já
havia sido proposta antes, mas foi com Darwin que a teoria
ganhou força. Segundo essa linha, as variações
entre indivíduos de uma população
surgem ao acaso. Com a descoberta da existência
de recombinações e mutações
gênicas, que se disseminam por meio de reprodução,
os indivíduos com características que favoreçam
a sua existência tendem a deixar mais descendentes,
o que ajuda em sua perpetuação. E os menos
preparados tendem a diminuir, e consequentemente, tendem
a desaparecer.
Coleta
O
que diferenciou o trabalho de Darwin dos outros biólogos
foi o intenso trabalho com as observações
e coleta de amostras. No período de cinco anos,
1831-1836, ele pesquisou regiões da África,
América do Sul e Oceania e percebeu a diferença
das faunas, floras e geologia de cada uma. As análises
dessas amostras serviram de base para o desenvolvimento
de conceitos de evolução e seleção
natural.
Darwin
classificava a viagem como o “evento mais importante
de sua vida”. Porém, demorou cerca de 20
anos para que mostrasse ao publico suas ideias com “A
Origem das Espécies”, 1859. As ideias contidas
no livro geraram forte polêmica, principalmente
na Igreja Anglicana – a Igreja Católica diz
nunca ter colocado suas obras no Índex Librorum
Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos).
Origem no macaco
Thomas
H. Huxley, foi um dos maiores defensores da teoria da
evolução. Durante um debate na Universidade
Oxford, o bispo Samuel Wilberforce perguntou ao biólogo
se ele descendia do macaco por parte dos avôs maternos
ou paternos. Já Darwin, não se envolvia
com as polêmicas, causadas por ele mesmo,e preferiu
que os apoiadores o representassem nos debates. "Ele
era uma pessoa muito reservada, não era polemista
e recusou vários convites para debater suas ideias",
afirma Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação
da USP.
De
acordo com Bizzo, Darwin "prezava pelas críticas"
e as respondia de maneira muito "polida e respeitosa".
Ele chegou a alterar trechos de "A origem das Espécies",
em edições posteriores, em razão
de apontamentos feitos por outros cientistas
Para
Maria Isabel Landim, do museu de zoologia, a teoria da
evolução proposta por Darwin chega aos 150
anos em clima de unanimidade na comunidade científica.
"O que existe são outras contribuições
para entender o processo evolutivo, e não uma contestação
clara a ele. A grande batalha é a questão
do criacionismo versus evolucionismo. Essa questão
é incontestável."
+ Mais
Vaticano aceita a evolução darwiniana.
O
Vaticano disse que a teoria da evolução
é compatível com a Bíblia, mas não
planejam nenhum pedido de desculpas póstumas a
Darwin pela fria recepção há 150
anos. As igrejas cristãs costumam ser hostis a
Darwin e a sua teoria da evolução, contrariando
a teoria do criacionismo descrita pela Bíblia.
O
arcebispo Gianfranco Ravasi, ministro da Cultura do Vaticano,
deu a declaração durante o anúncio
de uma conferência de cientistas, teólogos
e filósofos que aconteceu em Roma em março
de 2009, marcando os 150 anos da publicação
da obra "A Origem das Espécies".
"Talvez
devêssemos abandonar a idéia de emitir pedidos
de desculpas, como se a história fosse um tribunal
que está eternamente em sessão", disse,
acrescentando que as teorias de Darwin "nunca foram
condenadas pela Igreja Católica e nem seu livro
havia sido banido".
Criacionistas
e suas teorias
A
partir da metade do século XX, novas versões
religiosas a respeito do criacionismo entraram no cenário
mundial, fazendo contrapartida à teoria da evolução
darwiniana.
Descobertas
arqueológicas mostram biomas distintos nas diferentes
eras geológicas e exemplares da mudança
passo-a-passo de uma espécie a outra. Alguns religiosos
defendem o evolucionismo teísta: a evolução
estaria nos planos de Deus quando o universo foi criado.
Mas
ainda sim os criacionistas bíblicos são
fiéis aos textos sagrados. E defendem a idéia
de que a Terra Jovem tenha surgido há 10 mil anos,
que é tempo insuficiente para haver a evolução
de seres unicelulares ao homem.
Outra abordagem crítica ao evolucionismo é
do design inteligente: segundo a qual a geração
de espécies como mamíferos é complexa
demais para ter ocorrido ao acaso ao longo de anos. Somente
uma inteligência superior, Deus, poderia ter criado.
+ Mais
Pai da evolução
diz que Müller prestou "admirável serviço"
Em
meio a tantas criticas, ler um livro intitulado “Für
Darwin” e saber que alguém se interessou
por suas teorias deve ter sido gratificante. A carta é
de 10 de Agosto de 1865.
"Meu
caro senhor, estive por um longo período tão
doente que somente agora acabo de ter ouvido as leituras
de sua obra sobre espécies, que me foi feita em
voz alta. Agora, o senhor me permita lhe agradecer cordialmente
pelo grande interesse com o qual eu a li. O senhor fez
um admirável serviço pela causa em que ambos
acreditamos. Muitos de seus argumentos me parecem excelentes,
e muitos de seus fatos, maravilhosos (...)."
As
39 cartas de Darwin para Müller (e 34 de Müller
para Darwin) estão publicadas no “Dear Mr.
Darwin” escrito em português pelo neurocirurgião
Cezar Ziling. O pesquisador relata que nem todas as cartas
trocadas pelos naturalistas foram encontradas até
hoje.
O
interessante é que nas correspondências,
como apontou Ziling, os dois se tornaram grandes amigos
e escreviam sobre tudo e pouco sobre a evolução
dos crustáceos. Mas o lado que os uniu emerge claramente
nos textos: "Há poucos dias recebi sua dissertação
sobre plantas trepadeiras, e me apresso em lhe expressar
minha gratidão por esta valiosa dádiva.
Eu a li com o maior interesse e estou muito feliz que
minha atenção foi dirigida para estas notáveis
plantas, que são extraordinariamente frequentes
em nossa flora (...)", escreveu Müller ao amigo
inglês no dia 12 de agosto de 1865.
É
possível notar que os dois não tinham certezas
sobre a evolução. Porém, os dois
confiavam em suas observações. Müller
demonstra ser um preocupado observador da natureza: "A
paisagem em nossa ilha é muito bonita (...). Infelizmente,
agora a vegetação perdeu muito de sua primitiva
grandiosidade (...). Muitos de nossos morros são
agora cobertos quase que exclusivamente por arbustos baixos
de uma insignificante Dodonaea (vassoura-vermelha)",
disse Müller em carta de 1º de novembro de 1865.
Currículo
Müller
nasceu em 1822, em Erfurt, na Alemanha. Chegou em Blumenau
em 1852, já formado em filosofia e medicina. Em
1856, ensinava matemática no Liceu Provincial da
antiga Desterro, atual Florianópolis. Também
era naturalista do governo da província até
1891. Em 1884, se tornou o naturalista-viajante do Museu
Nacional do Rio de Janeiro, posto que perdeu com a proclamação
da Republica.
Natália Souza/Pick-upau
Da Folha