Lamarck
e Darwin revolucionaram a biologia - Parte 2
A evolução biológica é formada
por mudanças em indivíduos de uma população,
que são transmitidas de uma geração
a outra. Esse processo resulta no aparecimento de novas
raças e espécies. Nos dois últimos
séculos tem-se acumulado enorme quantidade de evidências
favoráveis à evolução, fato
que nos dá certeza de que ela ocorreu no passado
e continua a ocorrer.
Conclui-se
que todos os seres vivos evoluíram a partir de
espécies primitivas. Mas, como a evolução
ocorre? De que natureza é o mecanismo que permite
a modificação de espécies, o surgimento
de outras e até a extinção de algumas
delas?
Negando
a imutabilidade das espécies, afrontando idéias
fixistas, naturalistas do século 19 utilizaram
conhecimentos disponíveis em sua época para
explicar o evolucionismo. Das hipóteses levantadas
duas merecem destaque: as propostas por Lamarck (lamarquismo)
e por Darwin (darwinismo).
O lamarquismo:
Proposta
por Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet, Cavaleiro de
Lamarck (1744-1829) é considerado o fundador do
evolucionismo. Em 1809 publicou um livro, a "Philosophie
Zoologique", no qual sugeriu a teoria a respeito
do mecanismo de evolução das espécies.
Partindo de que "o meio ambiente sofre alterações
e os seres vivos têm que se modificar para adaptarem-se
às novas condições" e "com
o tempo as modificações ocorridas nos seres
vivos tornam-se hereditárias".
Segundo suas
próprias palavras:
"O
ambiente afeta a forma e a organização dos
animais o que significa que, quando o ambiente torna-se
muito diferente, ele produz, num período de tempo
correspondente, modificações na forma e
organização dos animais".
(Traduzido de
Zoological Philosophy. Londres, Macmillan and Company,
1914.)
De
acordo com Lamarck, a atrofia de partes do organismo devido
ao desuso, o desenvolvimento de músculos resultante
de exercícios contínuos e o escurecimento
da pele sob a radiação solar seriam características
que, se tornariam hereditárias. Exemplos como esses
obtidos através do estudo de fósseis marinhos
levaram Lamarck à proposição de dois
princípios de sua teoria evolucionista:
Princípio
do uso e desuso:
O uso continuado de um órgão ou parte do
organismo determina o seu desenvolvimento (hipertrofia).
Em contrapartida, o desuso resulta em desenvolvimento
reduzido (atrofia) ou mesmo desaparecimento de um órgão
ou parte do organismo.
Princípio
da transmissão hereditária dos caracteres
adquiridos:
As características adquiridas através do
uso ou do desuso de órgãos ou partes do
organismo tornam-se hereditárias com o passar do
tempo. Desse modo novas espécies surgem a partir
de transformação de outras já existentes.
Exemplos
ilustram estes princípios e o modo pelo qual permitiriam
o aparecimento de novas espécies. Um deles explica
a existência de peixes cegos em cavernas. Peixes
dotados de visão teriam passado a viver em cavernas
onde a inexistência de luz condicionou a atrofia
de seus olhos por desuso.
A
atrofia, ocorrida ao longo de gerações,
teria sido transmitida aos descendentes até o aparecimento
de espécies de peixes cegos perfeitamente adaptados
ao lugar onde vivem. Note-se, nesse exemplo, a ação
condicionante do ambiente sem luz, fator determinante
do desuso dos olhos, de sua atrofia, da transmissão
à descendência e do aparecimento de espécies
de peixes cegos.
A
teoria evolucionista de Lamarck, não deu certo
por que ele acreditava que uma vez adquirida certas características,
essas seriam hereditárias.
Mas
as bases da genética e da reprodução
só viriam a ser desvendadas por Gregor Mendel,
cerca de 31 anos após a morte de Lamarck, por volta
de 1860. Ainda assim, os experimentos de Mendel permaneceriam
desconhecidos por cerca de quarenta anos vindo a ser redescobertos
somente em 1900 através de estudos isolados de
Correns, Tchesmark e Hugo de Vries.
O darwinismo:
Charles
Robert Darwin (1809-1882) foi o quinto filho de uma importante
família na Inglaterra. Abandonou o curso de medicina
e se matriculou na universidade de Cambridge com a intenção
de formar-se clérigo. Já graduado, aos 22
anos de idade Darwin foi recomendado por seus mestres
para participar, como naturalista, de uma viagem de exploração
científica ao redor do mundo.
Darwin
embarcou, em dezembro de 1831, no navio HMS Beagle e iniciou
uma viagem que duraria cinco anos. Nesse período,
Darwin teve oportunidade de recolher informações
sobre diversas coisas na América do Sul e outras
regiões do globo. Fazendo uso de agudo senso de
observação Darwin analisou fósseis
e coletou dados relativos à vida animal e vegetal,
relações entre os seres vivos, sua variabilidade
e adaptações dos mesmos aos ambientes naturais
vivem.
Darwin
observou no Arquipélago de Galápagos, que
em cada ilha existem tartarugas, tentilhões e outros
seres adaptados aos ambientes particulares em que vivem.
Darwin estudou detidamente estes seres vivos, analisando
as diferenças em suas estruturas e hábitos
alimentares.
A
observação dos tentilhões, mais tarde
relatada por Darwin, tornou-se exemplo clássico
de prova do evolucionismo. Em Galápagos, cada ilha
é habitada por espécies semelhantes, porém
distintas dessas aves, fato que atesta o caráter
gradual da evolução. Darwin notou que os
tentilhões diferem pelo formato e tamanho de seus
bicos.
A
diferença ocorre porque os bicos têm forma
e tamanho adaptados ao tipo de alimento encontrado nas
ilhas em que os tentilhões vivem. Trata-se, portanto
de um caso em que se verifica a variabilidade de seres
decorrente das suas necessidades de adaptação
aos ambientes, fator indispensável às suas
sobrevivências.
A influência
de Thomas Malthus
Depois
de cinco anos de viagens ao redor do mundo, o Beagle retornou
a Inglaterra, foi quando Darwin organizou as informações
obtidas durante a viagem. De todas as observações,
três foram as mais importantes: as variações
apresentadas por indivíduos de uma mesma espécie;
as semelhanças entre indivíduos de espécies
diferentes que vivem em regiões muito próximas;
e a semelhança entre fósseis que encontrou
e espécies atuais.
Após
a leitura de trabalho “Um ensaio sobre a teoria
da população”, publicado em 1798 por
Thomas Malthus. De acordo do Malthus a população
tende a crescer mais rapidamente do que a quantidade de
alimentos que ela precisa para sobreviver. E isso gera
a guerra, a fome e doenças.
Darwin
resolveu aplicar essa ideia de Malthus aos animais e vegetais.
Passando então duas décadas em sua nova
teoria, que anunciada a primeira vez em 1858 e completa
com o lançamento da “A Origem das Espécies”,
em 1859.
Não
queria que sua teoria fosse revelada antes da sua morte.
Mas foi convencido por amigos cientistas para publicá-la,
quando recebeu uma carta de um jovem Alfred Russel Wallace
(1823-1913), que apresentava a mesma ideia de Darwin,
sobre a evolução das espécies. Depois
de alguma relutância publicou a sua teoria de evolução
pela seleção natural. Pode ser resumida
nos seguintes tópicos:
-
As populações têm potencial para crescer
em progressão geométrica aumentando exponencialmente
o número de indivíduos;
-
Entretanto isso não acontece: o número de
indivíduos de uma mesma espécie, em cada
geração, mantém-se aproximadamente
constante;
-
O não crescimento populacional só pode ser
explicado por elevada taxa de mortalidade;
-
A mortalidade elevada explica-se pelo fato de os indivíduos
não serem iguais entre si. As variações,
na maior parte de origem hereditária, podem ou
não lhes ser úteis no ambiente onde vivem.
Isso representa que alguns se mostram mais capazes do
que outros para sobreviver e deixar descendentes;
-
Verifica-se uma luta pela sobrevivência que é
vencida pelos indivíduos que melhor se adaptem
ao meio ambiente;
Em
resumo: a natureza seleciona os indivíduos mais
aptos. Essa é a Seleção Natural.
A
seleção natural é conseqüência
da sobrevivência dos indivíduos portadores
das melhores variações, em relação
ao meio que vivem. As variações são
hereditárias, acumulando na descendência.
Esse acúmulo de variações, ao longo
das gerações, se altera chegando a um estagio
no qual irá surgir uma nova espécie. Através
desse raciocínio, Darwin explicou como aparecem
novas espécies a partir de outras que já
existiam.
O
neodarwinismo
Hoje sabemos de algo que Darwin não conhecia na
época, o motivo pelo qual ocorrem as variações
genéticas. As mutações são
variações espontâneas dos genes. Os
genes mutantes determinam uma nova característica
no organismo, podendo ser útil, ou não.
Se forem úteis, prevalecem e são transmitidas
para seus descendentes, gerando assim o aparecimento de
novas espécies.
A recombinação genética, ou crossing-over,
ocorre durante o processo de meiose através do
qual os seres vivos produzem as suas células sexuais.
A recombinação do material genético
resulta em novos arranjos de genes e geração
de indivíduos com características diferentes
que serão selecionadas.
Lamarck X Darwin
Embora
as teorias sejam bastante diferentes, as duas buscam pela
explicação da modificação
das espécies e podem ser diferenciadas pela ação
do ambiente.
Para
Lamarck o ambiente é a causa das modificações
que ocorrem nos seres vivos. É o ambiente que as
provoca. E para Darwin os seres sofrem mudanças
que são selecionadas pelo meio ambiente.
O
exemplo da girafa esclarece muito bem a diferença
entre as teorias. Lamarck, explica que o tamanho do pescoço
dela é resultado de um alongamento, função
de necessidade para conseguir alimentos em lugares altos.
Essa seria a alteração ambiental causando
mudanças.
Darwin,
explicaria que existem girafas de pescoço curto
e outras de pescoço comprido. A mudança
ambiental obrigou as girafas a conseguirem alimentos em
lugares altos, e favoreceu aquelas do pescoço longo,
que se reproduziam com mais facilidade do que a de pescoço
curto, que desapareceu. Essa seria a ação
do ambiente selecionando os animais com melhores adaptações.
Natália Souza/Pick-upau
Do UOL