Estudo
publicado no Reino Unido revela que os conterrâneos
do cientista Charles Darwin ainda duvidam dele. Segundo
a pesquisa “Rescuing Darwin” (Resgatando Darwin),
mais da metade dos britânicos acredita na teoria
do design inteligente, e não na teoria da evolução.
A
pesquisa foi realizada pelo Theos, uma “think tank”
religiosa e o Intistuto Faraday, de Cambridge. O estudo
aponta que dentre os pesquisados 32% defendem a ideia
de criacionismo; 51% o design inteligente. Os números
não são excludentes, uma vez que o questionário
era múltiplo.
A
interpretação do resultado é difícil
pelos próprios organizadores. Nick Spencer, diretor
do Theos, considera que há uma grande “área
cinzenta”, devido ao fato de que as pessoas não
conhecem as teorias darwiniana, de criacionismo e a do
design inteligente.
"A
urgente necessidade de educação e informação
é o que mais impressiona. A confusão e o
ceticismo, causados pelo modo como ciência e religião
são ensinadas, levam as pessoas a dar respostas
até mesmo contraditórias de um ponto de
vista científico", disse Nick.
Dez mil anos
atrás
Denis
Alexander, responsável pela interpretação
da pesquisa, se preocupou com o resultado. Principalmente
com a maioria dos pesquisados acharem que a Terra foi
criada há dez mil anos atrás.
"É desconcertante que, em 2009, existam pessoas
que pensam que o mundo tem essa idade por conta de uma
leitura da Bíblia, quando toda evidência
científica demonstra que isso é errado",
diz o diretor do Instituto Faraday. Diz também
que não se pode comprovar de um ponto de vista
estatístico, mas tem a impressão de que
o criacionismo esteja crescendo consideravelmente no Reino
Unido nos últimos anos. E aponta três causas
que considera principais.
As
duas principais seriam: o aumento da população
de imigrantes islâmicos e o desenvolvimento das
igrejas pentecostais de afrodescendentes. A terceira seria
o "desfavor que vêm fazendo à ciência
os ditos intelectuais neodarwinistas". Entre os cientistas
culpados, seria o britânico Richard Dawkins e as
suas obras “O Gene Egoísta” e “Deus,
um Delírio” (Companhia das Letras), e defende
o ateísmo por meio das ideas de Darwin.
"Não
é sua intenção, mas ao fazer campanha
pró-evolução, Dawkins tem estimulado
a ascensão do criacionismo neste país. Sua
mensagem, repetida de modo simplório em igrejas,
mesquitas e sinagogas, é a de que "a evolução
significa ateísmo", ao que os fiéis
são levados a responder: "Bem, não
aceitamos o ateísmo, então também
não apoiamos a evolução". Alexander
completa que ao lutar com violência, Dawkins está
estimulando o comportamento oposto. "Um fenômeno
social muito comum na história das ideias",
conclui Alexander.
O
pesquisador da Universidade de Sussex, James Williams
também concorda: “Dawkins é um intelectual
a ser respeitado, mas exagera em suas interpretações.
Para ele, se você acredita em algo, isso é
suficiente para que você seja considerado um idiota.
Elimina a ideia de que evolução e crença
em Deus possam andar juntas. Tenta provar que Deus não
existe, mas não pode fazer isso. Desse modo, provoca
uma reação violenta, que acaba dando força
ao criacionismo", diz o estudioso de ciência
da educação.
Alega
que se Darwin estivesse vivo, não estaria do lado
de Dawkins: "ele o respeitaria pela importância
de seus estudos, mas só isso, não concordaria
com a violência que está imprimindo ao debate."
E reforça a ideia “Darwin era um cavalheiro
educado, ao estilo vitoriano. Deveria ser visto por nós
como um exemplo de alguém que teve bom relacionamento
com acadêmicos de diversas correntes e credos. É
algo que está muito em falta nos dias de hoje.
Estou seguro de que ficaria chocado com a brutalidade
desse debate teológico. Além disso, esse
nem era o centro de seus estudos."
E
no Brasil...
Flávio
Pierucci, professor de socióloga da Universidade
de São Paulo, acha que se realizasse uma pesquisa
dessas no Brasil, o resultado seria bem diferente, devido
a pouca força que os criacionistas têm aqui.
"Não dá para se ter uma ideia clara,
mas vejo uma tendência de simpatia pelo evolucionismo,
por exemplo, entre adeptos do espiritismo, que é
uma religião muito popular no Brasil. Mas é
só uma sensação."
O
professor considera assustador o número de britânicos
que acreditam no criacionismo, "as pessoas em geral
não entendem como funciona a ciência até
que ela tenha um efeito prático em suas vidas.
Uma evidência científica funciona apenas
para os cientistas", diz. Assim como os outros cientistas
concordam que a informação e educação
permitiriam melhor entendimento do assunto.
Ao ouvir a expressão
'design inteligente', a tendência é a pessoa
pensar que há por trás um 'designer inteligente',
a personalizar o processo; é assim que funciona
o raciocínio popular desinformado", diz.
Natália Souza/Pick-upau
Da Folha