Em
sua primeira visita ao Brasil, a bióloga americana
Joan Roughgarden, 64, professora da Universidade Stanford
e referência em estudos sobre homossexualidade no
mundo animal, atacou a teoria de seleção
sexual de Charles Darwin.
Para
a cientista, que em 1998 fez uma cirurgia de mudança
de sexo e deixou de se chamar Jonathan para virar Joan,
Darwin estava "profundamente equivocado" ao
descrever padrões rígidos de distinção
entre os sexos.
O conceito de
seleção sexual é um dos componentes
da teoria da evolução.
Darwin
diz que as fêmeas, por gastarem mais tempo e energia
com a criação da prole, tendem a ser mais
recatadas, escolhendo os parceiros rigidamente, muitas
vezes com base em características físicas
exageradas -as caudas dos pavões ou os chifres
dos veados, por exemplo.
Tais
traços serviriam, para as fêmeas, como indicador
de qualidade genética, enquanto os machos tenderiam
a ser mais promíscuos.
Roughgarden se opõe a isso e afirma que não
há um padrão rígido de comportamento
para machos e fêmeas. Haveria, na realidade, várias
gradações entre o feminino e o masculino.
RELAÇÃO
MACHO E FÊMEA
Ela
cita várias pesquisas indicando que, na natureza,
nem mesmo a relação entre macho e fêmea
pode ser considerada padrão.
"Há
mais de 300 espécies de vertebrados com registro
de homossexualidade. Um terço dos peixes de recifes
de coral pode trocar de sexo durante a vida. A seleção
sexual não explica isso", diz.
No
lugar do conceito de Darwin, Roughgarden propõe
a teoria de "seleção social".
Além de compreender as várias gradações
entre os gêneros, a teoria afirma que, na natureza,
é comum haver sexo sem fins reprodutivos.
Como exemplo, ela cita os bonobos, primatas africanos
que usam sexo como forma de integração e
interação social, além de outros
bichos.
Lançado
há um ano, seu último livro, "The Genial
Gene", aprofunda as críticas. Um dos principais
alvos é o zoólogo Richard Dawkins, ex-professor
da Universidade de Oxford e defensor da visão darwinista
clássica. Para a bióloga, Dawkins e outros
dão peso excessivo à competição
no processo evolutivo.
Ela acusa as
universidades britânicas de ignorar qualquer indício
de erros na teoria da seleção sexual.
"Charles
Darwin é um herói nacional. Por isso, admitir
que existe uma falha no seu raciocínio tem um significado
enorme. É como se estivessem desmoralizando a nação",
afirmou.
Fonte: Da Folha de São Paulo/Giuliana Miranda