Durante
a sua viagem no HSM Beagle, o naturalista Charles Darwin,
ficou encantado com as paisagens da América do
Sul. Aém da diversidade encontrada, ficou também
impressionado com a questão dos escravos do Brasil
do século XIX.
"Há
três coisas marcantes para Darwin naquele momento:
a diversidade da fauna e flora, a distribuição
delas na América do Sul e o contexto escravocrata.
Naquele momento, o pensamento liberal estava mudando com
o progresso do humanismo. Em vários momentos nas
suas anotações, ele cita o tratamento dado
aos negros e se posiciona fortemente contra a escravidão",
afirma Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento
de Popularização do Ministério da
Ciência e Tecnologia.
Alguns
teóricos afirmam que a escravidão teria
sido um dos motores para Darwin chegar a Teoria da Evolução
das Espécies. Em seu diário encontra-se
criticas violentas à escravidão brasileira,
como vemos a seguir: “Durante a briga do Sr. Lennon
com seu agente, ele ameaçou vender em um leilão
público uma criança mulata ilegítima
a quem o Sr. Cowper é muito apegado. Além
disso, ele quase pôs em prática a ideia de
tirar todas as mulheres e crianças de seus maridos
e vendê-los separadamente no mercado no Rio. Será
possível imaginar dois exemplos mais horríveis
e escandalosos?"
E
continua, "apesar disso, garanto que o Sr. Lennon
está acima da média dos homens comuns em
bondade e bons sentimentos. Que estranho e inexplicável
é o efeito do hábito e do interesse! Diante
de fatos como este, como são fracos os argumentos
daqueles que defendem que a escravidão é
um mal tolerável!"
Caminhos de Darwin
A
Universidade Federal Fluminense refez o trajeto de Darwin
no Rio de Janeiro – onde ficou por 90 dias. A trajetória
também foi feita por Randal Keynes, tataraneto
de Darwin. "Foram dois impactos: o escravista e o
da natureza. Ele [Keynes] observou o quão importante
o Brasil foi para a teoria, pois foi o primeiro local
tropical no qual Darwin esteve", aponta a historiadora
Martha Campos, que, junto à bióloga Sandra
Celles, é coautora do trabalho "Caminhos de
Darwin".
O
cientista passa por Niterói, estrada Engenho do
Mato, parque estadual da Serra da Tiririca, lugares cujas
vegetações são ricas, fantásticas
e belas, conta a pesquisadora. Já a pesquisadora
Martha Campos, propõe que Darwin se dividia entre
os campos biológicos e cultural. "Há
a ideia de igualdade de origem entre os homens, o que
é político e revolucionário. Essa
percepção de igualdade de origem tem que
ser dita até hoje", enfatiza.
Ideu
Moreira, diretor do Departamento de Popularização
do Ministério da Ciência e Tecnologia, destaca
uma forma darwiniana peculiar: "Ele tece ideias preconceituosas
e generalistas em relação aos brasileiros
e afirma que se trata de um povo ignorante. A visão
de Darwin não é absoluta e também
é influenciada pela potência inglesa."
+
Mais
Darwin tão vivo quanto 200 anos atrás.
Se não fosse pela seleção natural
criada por Darwin, o mesmo estaria celebrando seu bicentenário.
Ela é a maior responsável pela morte de
organismos inexoráveis a morte – não
incluindo as bactérias e arqueobactérias
-, seres que se reproduzem gerando clones, partilhando
a mesma identidade e podem ficar milhões de anos
em vida suspensa, por exemplo no gelo.
Fazendo
também aniversário, sua obra prima “A
Origem das Espécies”, sua teoria se faz presente
e gera muitas discussões nos dias de hoje.
Uma
matéria do jornal inglês, The Times, publicou
que no mês de Darwin, até o vaticano prestou
as devidas homenagens ao biólogo. Segundo Richard
Owen, o arcebispo Gianfranco Ravasi, declarou não
haver incompatibilidade entre a evolução
e a fé cristã. É um grande passo,
aberto por João Paulo II em 1996, quando disse
que a evolução era mais do que uma hipótese.
De
acordo com Owen, Gianfranco também teria dado um
golpe no design inteligente. Em uma conferencia papal
em março desse ano sobre os 150 anos da obra de
Darwin, o tema foi tratado como “fenômeno
cultural” e não teve nenhuma questão
cientifica e nem teológica.
Natália Souza/Pick-upau
Da Folha